PAIS SEPARADOS, FILHOS E O NATAL
- Renata Bento
- 3 de jul. de 2020
- 3 min de leitura
Atualizado: 15 de jul. de 2020

O Natal é a celebração do nascimento e da união simbolizado pela família. É o momento da expressão mais genuína da tradição familiar; aquele dia em que se tenta materializar as idealizações a cerca do que cada um espera dessa data. Mas como passar por isso e sobreviver quando a sua própria família acaba de desmoronar?
Como as famílias são formadas por diversas personalidades com sentimentos e percepções diferentes, é comum não conseguir realizar os desejos de união familiar quanto aos moldes desejados. Resta então lidar com a realidade, ou seja, aceitar as circunstâncias e fazer delas o melhor que se pode.
Quando se tem filhos pequenos, o primeiro Natal após a separação fica com ar meio nebuloso, esquisito, como se algo tivesse errado ou faltando. Monta ou não monta a árvore de Natal? E a ceia?
Natal faz lembrar criança por conta de todo ritual e da crença imaginativa do Papai Noel; e criança faz lembrar a nossa criança, aquela que reside dentro de cada um de nós. É nesse ponto que parecer tocar mais profundamente - a criança interna, muitas vezes projetada nos filhos, está entristecida. Administrar o mundo externo passa a ser um dilema porque parece que a sua família sumiu e que agora se encontra perdido (a) no mundo. Não tem mais aquela família e é estranho regressar à família de origem. É como se ficasse em um estado de transformação. Aceitar a tristeza e aguardar a passagem do luto é essencial para superar esse momento de transição. Mas as crianças pequenas precisam desse simbolismo, isso faz bem a elas. Separar dentro de si um espaço para pensar sobre isso sem misturar seu sofrimento com os filhos é um desafio.
As celebrações de final de ano são permeadas de muita emoção, por isso os sentimentos ficam mais aflorados e as pessoas, mais sensíveis, sobretudo nas semanas que antecedem o Natal. Evitar conflitos em situações nas quais as pessoas estão emocionalmente envolvidas muitas vezes é difícil, já que de um lado pode se ter a expectativa de harmonia familiar, mas, por outro lado, podem-se anunciar problemas emocionalmente desgastantes, além do aparecimento de sentimentos que outrora pareciam enterrados, mas que ressurgem com força total, virando muitas vezes uma ‘lavação de roupa suja’.
Para grande parte das pessoas, celebrar o natal pode ser um momento de alegria; para outros, é um período tão mobilizador que acaba por evidenciar as relações conflituosas; uma delas diz respeito à dificuldade encontrada nos pais para se estabelecer um parâmetro sobre a divisão da convivência com os filhos nessa época, após a separação do casal. Em algumas situações, faz-se necessária uma intervenção judicial.
A comunicação é a base da relação entre as pessoas, mas nem sempre o ex-casal consegue ter equilíbrio para conversar, ajustar e muitas vezes ceder em suas expectativas. Ficam frustrados, competem pelo número a mais de dias que porventura os filhos ficarão com o outro, principalmente quando é o primeiro Natal após o divórcio.
As crianças sentem essa tensão dos pais e também ficam em conflito. Para preservá-las e buscar uma vida harmoniosa, não é preciso se martirizar caso tenha sido combinado que os filhos estarão com o outro genitor nesse período. Se é isso que irá acontecer, acalme-se! Se não conseguir se conter emocionalmente, é melhor buscar ajuda de um terapeuta.
É possível usar a criatividade e, por exemplo, planejar um Natal antecipado para celebrar a união, aquela que é para sempre, já que não existe ex-filho (a). Puxar a criança como se fosse um cabo de guerra destrói emocionalmente a capacidade de confiança e segurança nos pais e no seu entorno. Caso fique com os filhos no Natal, também será um momento de celebrar.
As crianças quando têm pais mais amadurecidos tendem a atravessar o divórcio dos mesmos de forma menos dolorosa. Ela sentirá a dor de não estar na convivência de ambos nessa data tão familiar, mas, se os pais abrirem-se ao diálogo explicando como se dará a divisão de convivência, é bem possível que se sintam menos inseguras e mais compreendidas. Evitar disputas e buscar uma convivência equilibrada favorece o amadurecimento dos filhos.
Comments