CORONAVÍRUS - A DIFÍCIL TAREFA DE LIDAR COM UMA NOVA REALIDADE SEM PERDER A SAÚDE MENTAL
- Renata Bento
- 6 de jul. de 2020
- 4 min de leitura
Atualizado: 15 de jul. de 2020

A vida prega peças, é uma caixa de surpresas com acontecimentos inesperados e até mesmo impensáveis. Estamos diante de uma realidade obscura, invadidos por algo silencioso e invisível onde é preciso que todos se recolham; não são férias, é cuidado, é preservação. Como dizemos nós, psicanalistas: a realidade se impõe! E o que fazer com ela?
Esse será particularmente um período de angústia e de muitos desafios, pois é preciso lidar com a própria cabeça, isto é, com as próprias emoções; e se isso ocorrer de forma minimamente equilibrada, servirá para ajudar as crianças a se manterem mentalmente saudáveis.
Lidar com o imprevisível, com a incerteza, com sentimentos ambivalentes, requer serenidade para que a mente continue funcional e produtiva. Pensando nisso, é importante que os pais consigam manter a calma para que os pequenos fiquem bem.
A mente debilitada faz com que os pensamentos fiquem confusos, negativos e deturpados o que traz um enfraquecimento mental, tornando-a mais permeável a outro tipo de ‘vírus’: o vírus da desordem emocional, originando vários sintomas: a ansiedade, o medo e o pânico, que contaminam todos à volta, piorando enormemente o próprio estado emocional e consequentemente atingindo a relação dentro de casa.
Diante do caos lá fora, é preciso que se busque a harmonia dentro de casa. Sentiu que está estressado demais, afaste-se das crianças e espere a mente se acalmar; não jogue em cima delas a angústia, pois elas não têm condições de processá-la mentalmente. O aparelho psíquico de uma criança é iniciante, não aguenta o tranco de uma realidade dura, por isso precisa dos adultos.
É importante conversar com os pequenos, ajudá-los a expressarem seus sentimentos de medo e angústia. Não os proíbam de falar, ajudem-nos a colocar para fora o que sentem, da forma deles. Se mostrarem-se preocupados e aflitos, convide a conversar sobre o que sentem ou a desenhar. As crianças muitas vezes não conseguem colocar em palavras, mas se expressam através dos desenhos ou brincadeiras. É preciso explicar que o momento é delicado para todos e que o melhor remédio é esse mesmo, ficar em casa. É tempo de usar a criatividade, a imaginação e principalmente a capacidade de se adaptar a uma nova realidade.
Em caso de pais separados, estabeleça um contato por vídeo diariamente. Essa é uma situação atípica onde o bom senso deverá mais do que nunca ser utilizado. Aos pais, tentem manter a briga e a disputa pela criança afastadas no atual cenário. É comum que em momentos de angústia a criança busque mais contato com os pais, tente não evitar essa aproximação; traga-a para perto, mas não a aflija com seus medos.
A solidão fará parte do dia a dia, além da incerteza e do próprio medo da contaminação e isso pode agravar ou revelar problemas emocionais; conviver com todos esses fatos exigirá uma grande capacidade de equilíbrio para lidar com as oscilações e se adaptar. Manter a calma será importante para preservar o próprio estado emocional e dar segurança às crianças.
Para isso, evite ou reduza o contato excessivo com o noticiário, já que este pode causar ainda mais ansiedade; saiba que está fazendo o que é preciso, que é estar em casa; se o contato for inevitável, estabeleça um limite para as notícias e procure fontes mais confiáveis, evite boatos de grupos de aplicativos. Evite o consumo de álcool, cigarro ou drogas como formas nocivas, deturpadas e equivocadas de lidar com a ansiedade e o estresse.
Esse tempo poderá ser usado para ler um livro, fazer receitas, arrumar coisas em casa, escutar música, conversar por telefone ou vídeo com os familiares e amigos, fazer um curso online, por exemplo. Profissionais de saúde estão trabalhando incansavelmente. Nós, psicanalistas, estamos escutando diariamente a angústia de nossos pacientes adultos e crianças através de atendimentos online. Isso ajuda a manter a lucidez e a seguir em frente. Não tema em pedir ajuda, se achar necessário.
Se puder, crie grupos de interação online para discussão de livros, artes e novas ideias. A tecnologia pode ser usada como grande aliada, seja para jogos, leituras, filmes ou estudos. Busque estabelecer uma rotina. A rotina organiza a cabeça e a mente produtiva ajuda a manter o equilíbrio emocional.
Com as crianças, busque mesclar tecnologia com a criação de atividades lúdicas como desenhos, pinturas, recortes, massinha, sucata, cabana de lençol entre outras. Existem muitas formas de atividades através da tecnologia que são bacanas e pedagógicas.
É tempo de aproveitar a oportunidade para ensinar às crianças, de acordo com sua faixa etária, as tarefas domésticas: como arrumar a própria cama, colocar a roupa no cesto e também na máquina de lavar, arrumar a mesa, varrer a casa, aspirar, regar as plantas, tirar o pó, cozinhar, lavar e/ou secar a louça, arrumar os brinquedos e o armário. Os afazeres da casa ajudam no estabelecimento e manutenção de uma rotina com as crianças e preparam-nas para autonomia e independência.
Mantenham distância física, mas busquem proximidade emocional; reforcem os laços sociais através de mensagens, interações por vídeo, e-mails. O que não tem remédio, remediado está. Agora é suportar até que surjam novas possibilidades. Como dito pelo poeta Guimarães Rosa, “a vida é assim: esquenta e esfria, aperta e daí afrouxa, sossega e depois desinquieta. O que ela quer da gente é CORAGEM!” Vamos em frente utilizando a parte boa de nós mesmos e criando novas formas de lidar com a vida; sejamos então corajosos!
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